terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Frase #17

Tudo que vai e não volta fica guardado para sempre na angústia do não ter.

domingo, 25 de maio de 2014

A Ditadura da Especulação: Memórias de um ex-militar sobre como a censura era vista de dentro dos quartéis

Antônio Domingos Pereira Reis é presidente do Conselho Municipal de Saúde de Eunápolis, BA. Nasceu no dia 13 de junho de 1944 em Canavieiras. Em 1965, início da ditadura civil militar (1964-1985), Antônio foi servir na infantaria do Exército de Salvador, no Quartel 19BC. Morou sozinho nesse período e saía às vezes para as festas na Lapa. Reis sempre gostou de ler literatura clássica. Ouvia a BBC de Londres, A Voz da América, Central de Pequim, Rádio Globo e Rádio TUPI. Seus músicos favoritos são Chico Buarque, Capinam e Vandré. Em 1968, ele retornou para Eunápolis, a fim de ficar com seu pai, e casou-se.
Reis explica que saiu de Eunápolis em 1964, “quando ocorreu o que nós chamamos de Revolução e, os contrários, Golpe”. Na época, o serviço era obrigatório e abrangia um contingente maior, que multiplicou unidades das Forças Armadas. Ele não sofreu repressão porque estava dentro do Exército. “A circulação de notícias sobre isso não acontecia no quartel, porque a doutrinação lá dentro era diferente da que se falava lá fora”.
Como naquele tempo havia guerrilhas, os militares eram treinados para tais. Uma lembrança do entrevistado é o caso da Vanguarda Popular Revolucionária, grupo armado que lutou contra a ditadura de 1969 a 1971. Lamarca, líder do grupo, era capitão do Exército, mas desertou no ano de 1969 para lutar pelos seus ideais, porém foi caçado e morto pelos fuzileiros em 1971. Antônio cita também Rubens Paiva, que desapareceu durante a época e só agora os torturadores foram condenados.
Segundo o entrevistado, o Exército pregava a defesa do país de uma possível intentona comunista. “Todo militar é estrategista, é treinado para tomar conta do país. E ao saberem do que Jango estava armando, resolveram tomar as rédeas”. A Revolução veio e, por conta da quantidade de elementos infiltrados em todas as partes do país, houve a repressão. A investigação era urgente e os suspeitos eram interrogados, às vezes com violência. Antônio afirma que “tinha muita gente que, para se dar bem com o Exército, denunciava outras pessoas e essas acusações nem sempre eram verídicas”. Ele se refere ao G-11: grupo formado por onze pessoas, veladamente, que arrumavam mais onze pessoas e assim sucessivamente para denunciar outras, formando uma pirâmide de denúncias.
Nos quartéis, a doutrinação militar servia para preparar os militares para uma eventual necessidade de combate. “Nesse discurso, eles pregavam que o outro lado queria entregar o país para governos exteriores e implantar ideologias que não condiziam com o nosso pensamento”. Sobre a influência dos Estados Unidos na ditadura civil militar brasileira, Antônio diz que “nunca foi dito que deveríamos ser simpáticos aos americanos”. O que havia era uma contraposição ao comunismo. Mas, como os EUA eram visto como o mantenedor da democracia, os países democratas queriam reforçar a posição dos militares no Brasil como aliados.
Ao ser perguntado sobre as músicas do período ditatorial no Brasil, Antônio Reis disse que, após sair do Exército em 1968, ouvia os Festivais de Música Popular Brasileira e Festivais Internacionais da Canção por meio das rádios. Apesar de muitas músicas serem vetadas, cita cantores como Capinam, Chico e Vandré. Aponta músicas de Chico Buarque, na quais, havia implicitamente uma mensagem, além da poesia. “Sabiá”, vencedora do III FIC, retratava o exílio. Assim como na música “Carolina”, que chamava os militares para a vida, para deixar de perseguir o povo e acabar de vez com aquela situação.
Hoje, 50 anos após a ditadura civil-militar instaurada no Brasil, Antônio Reis apresenta outro lado: “a Revolução construiu o país”. No fervor da situação, foi muito drástico. As pessoas andavam com medo, havia um combate acirrado a qualquer manifestação. Contudo, as grandes obras do país, como a ponte Rio-Niterói, a BR-364 e Angra I, surgiram nesse momento. “No sentido da democracia, a ditadura foi ruim, mas no sentido do progresso, foi excelente”, finaliza Reis.

Nossa equipe, composta por alunos do curso de Informática do IFBA,
            entrevistando o ex-militar e atual presidente do Conselho de Saúde em
          Eunápolis, BA. Da esquerda para a direita: Ângelo (2ºano), Antônio
Reis, Camila e Igor (ambos 4ºano)

Ela

Ela é um filme estadunidense de comédia dramática, ficção científica e romance escrito, dirigido e produzido em 2013 por Spike Jonze. O enredo do filme se constrói em torno da história de um jovem escritor, Theodore, que, após ter um relacionamento frustrado, apaixona-se por um Sistema Operacional, chamado Samantha.
O filme faz uma crítica profunda às formas de relacionamento humano, instigando o espectador a refletir sobre como o avanço da tecnologia e dos meios comunicativos podem proporcionar, ainda que paradoxalmente, certa incomunicabilidade entre os homens.
Com o advento da Internet e dos aparelhos móveis, pensava-se que o homem conseguiria estar mais perto do outro. De certa forma, as distâncias foram diminuídas, pessoas que moram longe de seus familiares, por exemplo, podem estar mais presentes na vida de quem tanto gostam. Entretanto, esse mesmo artifício fez com que as conversas pessoais e o contato de forma literal fossem se tornando cada vez mais raros.
Atualmente, a cena mais vista é: pessoas com a cabeça abaixada, cada uma com o seu smartphone. Ela prevê um futuro aparentemente absurdo para a humanidade conectada, mas que não deixa de ser uma hipótese. Se o homem continuar se relacionando mais com a máquina do que com o próximo, ele próprio se tornará programado, mecânico e impessoal.
O que define o homem é a sua subjetividade, sua identidade, que só pode ser construída a partir do momento em que ele está inserido em um mundo comunicativo e dinâmico, interagindo com sua espécie. O conceito de grupo social está se distanciando cada vez mais do ser humano, e isso assusta, porque ele não conseguirá perpetuar a espécie se relacionando com computadores.
A tecnologia é um bem necessário, mas deve ser usado para necessidades, lazer, estudo e, principalmente, pesquisa e desenvolvimento. Sem se relacionar com sua sociedade, o homem se torna um ser alienado e apático. Essa condição o levará a ser condenado à solidão. E, quando ele perceber, assim como Theodore, a máquina estará quebrada e talvez possa ser tarde para procurar alguém que compartilhe seus gostos e sonhos.