domingo, 13 de janeiro de 2013

O picolé da sogra

          Depois do nascimento de uma filha, a maior preocupação de um pai é: qual será o idiota que, dentre os sete bilhões de pessoas no mundo, escolherá a minha princesa? Ter genro é tão ruim quanto ter sogra.
          Mulher é uma coisa complicada: quanto mais cafajeste, preguiçoso e vagabundo é o homem, melhor, desde que ele tenha 190 cm de altura e 100 kg de massa muscular bem distribuídos.
           A verdade é que, depois do noivado da Júlia, algumas coisas mudaram. Ela só vive na casa da sogra. Sai de manhã para o trabalho, estuda a tarde e passa a noite na casa da sogra. Basicamente, ela só dorme em casa, isso aqui virou uma casa dormitório.
E os fins de semana já não são mais os mesmos. Enquanto a família está na praia curtindo, a Júlia fica cuidando do noivo e, nesses passeios, eu ainda tenho que comprar coisas do meu dinheiro para ela presentar a sogra.
No último domingo, fomos a uma cidadezinha praieira e lá tem uma sorveteria maravilhosa, bem antiga. A receita é extremamente secreta e somente o dono sabe fazer a raridade. Eis que minha filha liga, para minha surpresa:
– Paizinho, você pode trazer dez picolés de Maneca?
– Estou sem dinheiro. – respondi.
– Ah, pai... Não tem problema. Te pago depois, é para minha sogra querida.
Filhos... O que eles pedem que não fazemos?! Comprei os picolés, gastei vinte reais com a Dona Joana. Tirei da minha e da boca da minha mulher para a sogrinha da primogênita não ficar sem.
Fomos embora para nossa casa com os picolés dentro de uma bolsa térmica. Ainda tive que gastar mais dez reais com gelo, senão eles iriam sucumbir aos 37ºC. Quando cheguei, a Júlia nem quis falar comigo, já foi pegando os picolés. Porém, para a nossa decepção, eles estavam só água.
– Pai, o picolé da minha sogra! – indagou Júlia.          
– De nada, ingrata. – respondi – Agora pode devolver meus 30 reais.
– Não vou devolver nada, esse não era o combinado. – ela retrucou.
Mas, para piorar a situação, o bonitão ao qual tenho o desprazer de chamar de genro, chegou:
– Oi, amor. Oi, sogrinho. Onde estão os picolés?
– Ah, amor, meu pai deixou derreter tudo. – ela respondeu.
– Claro. – ironizei – Eu não sei mandar no Sol como vocês.
– Não tem problema, sogrinho, – disse o abusado – semana que vem você compra gelo seco, aí não vai derreter.
Eu não o esperei nem terminar, quando vi, já o tinha mandado ao chão.
– Pai! O que você fez? O nariz dele está sangrando. – gritou Julia.
– Ah é?! – respondi – Pega o picolé da sogra e enfia no... Nariz dele.