Depois
do nascimento de uma filha, a maior preocupação de um pai é: qual será o idiota
que, dentre os sete bilhões de pessoas no mundo, escolherá a minha princesa?
Ter genro é tão ruim quanto ter sogra.
Mulher é uma coisa complicada:
quanto mais cafajeste, preguiçoso e vagabundo é o homem, melhor, desde que ele
tenha 190 cm de altura e 100 kg de massa muscular bem distribuídos.
A verdade é que, depois do noivado da
Júlia, algumas coisas mudaram. Ela só vive na casa da sogra. Sai de manhã para
o trabalho, estuda a tarde e passa a noite na casa da sogra. Basicamente, ela
só dorme em casa, isso aqui virou uma casa dormitório.
E os fins de semana já não são mais
os mesmos. Enquanto a família está na praia curtindo, a Júlia fica cuidando do
noivo e, nesses passeios, eu ainda tenho que comprar coisas do meu dinheiro
para ela presentar a sogra.
No último domingo, fomos a uma
cidadezinha praieira e lá tem uma sorveteria maravilhosa, bem antiga. A receita
é extremamente secreta e somente o dono sabe fazer a raridade. Eis que minha
filha liga, para minha surpresa:
– Paizinho, você pode trazer dez
picolés de Maneca?
– Estou sem dinheiro. – respondi.
– Ah, pai... Não tem problema. Te
pago depois, é para minha sogra querida.
Filhos... O que eles pedem que não
fazemos?! Comprei os picolés, gastei vinte reais com a Dona Joana. Tirei da
minha e da boca da minha mulher para a sogrinha da primogênita não ficar sem.
Fomos embora para nossa casa com os
picolés dentro de uma bolsa térmica. Ainda tive que gastar mais dez reais com
gelo, senão eles iriam sucumbir aos 37ºC. Quando cheguei, a Júlia nem quis
falar comigo, já foi pegando os picolés. Porém, para a nossa decepção, eles
estavam só água.
– Pai, o picolé da
minha sogra! – indagou Júlia.
– De nada, ingrata. – respondi –
Agora pode devolver meus 30 reais.
– Não vou devolver nada, esse não
era o combinado. – ela retrucou.
Mas, para piorar a situação, o
bonitão ao qual tenho o desprazer de chamar de genro, chegou:
– Oi, amor. Oi, sogrinho. Onde
estão os picolés?
– Ah, amor, meu pai deixou derreter
tudo. – ela respondeu.
– Claro. – ironizei – Eu não sei
mandar no Sol como vocês.
– Não tem problema, sogrinho, –
disse o abusado – semana que vem você compra gelo seco, aí não vai derreter.
Eu não o esperei nem terminar,
quando vi, já o tinha mandado ao chão.
– Pai! O que você fez? O nariz dele
está sangrando. – gritou Julia.
– Ah é?! – respondi – Pega o picolé
da sogra e enfia no... Nariz dele.
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